Com a aprovação das primeiras etapas da Reforma Tributária em 2024, o Brasil inicia uma transição no sistema tributário que deve trazer efeitos diretos sobre empresas, profissionais e consumidores nos próximos anos. A intenção central da reforma é simplificar regras, reduzir a complexidade e diminuir custos de conformidade, ao mesmo tempo em que busca maior transparência e equidade na tributação.
Este artigo traz um panorama das principais mudanças aprovadas, o que está previsto para 2025 e ações práticas que sua empresa pode iniciar agora para reduzir riscos e aproveitar oportunidades. Para um levantamento mais amplo sobre a proposta legislativa, veja também o nosso texto sobre reforma tributária e, ao tratar de impostos diretos e indiretos, consulte nosso conteúdo dedicado a impostos diretos e indiretos.

Em termos práticos, especialistas estimam que a consolidação de tributos em bases uniformes pode alterar a carga tributária setorial e a forma de cobrança sobre bens e serviços. Embora o impacto final dependa de regulamentações e leis complementares que ainda serão publicadas. Por isso, é essencial acompanhar o calendário legislativo e preparar um plano de transição.Linha do tempo resumida (marcos a monitorar):
- 2023–2025 — Aprovação da Emenda Constitucional nº 132 (promulgada em dezembro de 2023) e início da regulamentação por meio de leis complementares, como a Lei Complementar 214/2025, que definiu normas gerais do IBS e da CBS.
- 2026 — Início da fase piloto do novo sistema tributário, com alíquotas simbólicas (CBS em torno de 0,9% e IBS em torno de 0,1%), voltada a testes de sistemas, notas fiscais e obrigações acessórias.
- 2027 — Entrada em vigor da CBS em substituição ao PIS e à Cofins, com alíquotas efetivas e extinção gradual desses tributos federais.
- 2029–2032 — Transição progressiva do ICMS e do ISS para o IBS, com redução gradual dos tributos atuais e aumento proporcional da nova cobrança.
- 2033 — Conclusão da transição: extinção total dos tributos antigos (ICMS, ISS, PIS, Cofins) e consolidação plena do novo modelo com CBS, IBS e Imposto Seletivo.
Nos próximos anos, empresas precisarão revisar processos fiscais e tecnológicos para adequar-se ao novo modelo de tributação sobre consumo e à possível introdução de estruturas como CBS/IBS ou modelos híbridos (por exemplo, IVA dual). A necessidade de adaptações varia por setor e porte, por isso o planejamento antecipado reduz riscos e custos.
Principais Mudanças na Reforma de 2024
As medidas aprovadas em 2024 têm como eixo a simplificação do sistema tributário e a unificação de bases de tributação sobre consumo. Abaixo, explicamos cada mudança, seu objetivo e os principais efeitos esperados para empresas.
- Unificação: substituição de PIS, Cofins, ICMS e ISS por CBS e IBS: A proposta consolidou tributos federais, estaduais e municipais em contribuições sobre bens e serviços — Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). A ideia é criar uma base tributária mais uniforme e reduzir a complexidade e a cumulatividade. Na prática, isso representa uma mudança no modelo de tributação sobre consumo, aproximando-se de um IVA (valor agregado) ou de modelos híbridos como o chamado IVA dual. Para empresas, a transição afetará apuração, geração de créditos e processos de faturamento.
- Tributação de lucros e dividendos: Foi prevista a volta da tributação sobre lucros e dividendos, o que altera a política de distribuição de resultados para sócios e investidores. Ainda que alíquotas e faixas específicas dependam de regulamentação e de leis complementares, a mudança implica revisão do planejamento societário e da política de remuneração de acionistas por empresas de todos os portes.
- Progressividade no Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF): A alteração na estrutura do IRPF busca maior progressividade, aumentando a contribuição de pessoas físicas de renda mais elevada. Isso tem efeito indireto nas empresas, especialmente nas decisões de remuneração, benefícios e retenções de impostos na origem, e pode influenciar consumo e demanda em determinados segmentos.
- Extinção de benefícios fiscais setoriais: A proposta prevê o fim ou a redução de regimes especiais e incentivos setoriais que vinham beneficiando setores como tecnologia, indústria e agronegócio. Para empresas que dependem desses benefícios, será necessária uma reavaliação de preço, margem e carga tributária efetiva, além de revisão de contratos e investimentos planejados.
O objetivo comum dessas mudanças é reduzir a complexidade, diminuir obrigações acessórias e aumentar a segurança jurídica. No entanto, o impacto final por setor e por empresa dependerá de definições de alíquotas, regras de transição e da publicação de leis complementares e regulamentações que esclareçam pontos operacionais.
Exemplos práticos (hipotéticos):
- Comércio varejista com faturamento anual de R$ 10 milhões: a consolidação em IBS pode alterar a apuração de créditos e o fluxo de caixa mensal
- Empresa de serviços (consultoria) que antes recolhia ISS e contribuições federais: a migração para uma CBS/IBS exige ajuste no sistema de faturamento e possível reprecificação de contratos para manter margem.
Como se Preparar para 2025
A implementação prática das mudanças trazidas pela reforma tributária começará a impactar operações e compliance em 2025, com novas ações complementares previstas para entrar em vigor a partir de 2026. Para reduzir riscos e aproveitar oportunidades, as empresas devem iniciar desde já um plano estruturado de transição que envolva pessoas, processos e tecnologia.
Revisão de Processos Internos
- Mapear ciclos de faturamento e apuração de tributos atuais (PIS, Cofins, ICMS e ISS).
- Identificar pontos que serão afetados pela CBS/IBS ou por um modelo híbrido (IVA dual ou IVA sobre valor agregado).
- Avaliar impactos na geração de créditos fiscais e na cadeia de substituições.
- Atualizar layouts de notas fiscais e integrações com ERPs para garantir conformidade.
- Definir responsáveis pelo processo e estabelecer prazos (curto: até 3 meses; médio: 6–12 meses).
Capacitação de Equipes
- Compreender conceitos-chave: CBS/IBS, não cumulatividade, crédito fiscal, IVA dual e base uniforme.
- Estudar novas regras de apuração e obrigações acessórias previstas nas leis complementares.
- Avaliar impactos em preços, contratos e na política de dividendos (tributação de lucros).
- Realizar treinamentos práticos trimestrais com times de contabilidade, fiscal e compliance.
- Desenvolver playbooks de referência para equipes comercial e financeira.
Planejamento Financeiro
- Simular cenários de alíquotas e calcular efeitos na margem e no capital de giro.
- Ajustar o forecast e a política de preços diante de possíveis alterações na carga tributária por setor.
- Preparar reservas financeiras ou linhas de crédito temporárias para mitigar choques de caixa.
- Simular ao menos dois cenários (conservador e otimista) para estimar variações no fluxo de caixa nos primeiros 12 meses.
Tecnologia e ERPs
- Auditar sistemas atuais para identificar falhas na apuração, emissão de notas e relatórios fiscais.
- Priorizar integrações fiscais e automações para reduzir retrabalho e complexidade.
- Escolher fornecedores com experiência em projetos de transição tributária e realizar testes em ambientes controlados.
- Prazos recomendados: diagnóstico imediato em até 3 meses e implementação faseada em 6–12 meses.
Monitoramento Legislativo e Compliance
- Acompanhar publicações de leis complementares e regulamentações que definirão alíquotas e regras operacionais.
- Atualizar procedimentos internos assim que houver clareza normativa, evitando penalidades.
- Configurar alertas legislativos e manter relacionamento próximo com assessorias tributárias para respostas rápidas.
Comunicação com Stakeholders e Governança
- Informar acionistas, investidores e clientes sobre impactos potenciais e medidas de adaptação.
- Incluir a transição tributária nas pautas do comitê de riscos e nas revisões estratégicas.
- Promover transparência para reduzir surpresas e melhorar o alinhamento estratégico.
- Considerar a produção de um briefing executivo trimestral sobre os avanços.
Para aprofundar em impactos sobre impostos diretos, dividendos e remuneração, consulte também nosso conteúdo específico sobre impostos diretos e indiretos ou se preferir, agende uma avaliação de impacto tributário com nossos consultores para obter um plano personalizado e identificar as prioridades de implementação na sua empresa.
Impactos da Reforma Tributária nas Empresas Brasileiras
Embora a reforma tributária tenha como objetivo reduzir a complexidade do sistema, muitas empresas enfrentarão impactos financeiros e operacionais relevantes no curto e médio prazo. Setores que historicamente se beneficiaram de regimes especiais precisarão reavaliar preço, investimentos e estrutura de custos, enquanto empresas menores podem, em tese, ganhar com a simplificação a longo prazo.
Efeitos na carga tributária e competitividade
A consolidação de tributos em uma alíquota ou em bases uniformes pode levar a ajustes na carga tributária setorial. Em alguns segmentos, a redução de isenções e a unificação podem representar um aumento da carga tributária efetiva; em outros, a simplificação e a possibilidade de crédito fiscal podem reduzir custo de compliance e de tributação sobre consumo. É fundamental simular cenários para seu setor, pois o impacto final depende das alíquotas definidas em leis complementares e da forma de transição adotada.
Impactos por porte e setor
- Micro e pequenas empresas: podem se beneficiar com menos obrigações acessórias, mas precisarão adaptar sistemas simples de faturamento para as novas regras;
- PMEs: desafio de ajustar fluxo de caixa e margem diante de mudanças em alíquotas e na apuração de créditos;
- Grandes empresas e grupos internacionais: precisam revisar estratégia tributária global, contratos e estruturas societárias, avaliando efeitos sobre transações internacionais e fluxo de capitais.
Riscos e oportunidades operacionais
Riscos: revisão de benefícios fiscais que sustentavam projetos, alteração de competitividade, necessidade de readequação contratual (fornecedores e clientes) e maior fiscalização durante o período de transição. Oportunidades: redução de complexidade administrativa, potencial diminuição de custos de compliance, e maior transparência e governança que são fatores atrativos para investidores.
Checklist rápido de pontos a revisar
- Contratos com cláusulas tributárias e de repasse de preço;
- Política de preços e margem por produto/serviço;
- Estrutura de capital e política de distribuição de lucros (em razão da tributação sobre dividendos);
- Processos de compliance fiscal e capacidade de geração de créditos;
- Exposição em operações de comércio exterior e regimes especiais.
Quer aprofundar? Entre em contato com nossos especialistas, que atuam com serviços integrados de auditoria, auditoria interna, contabilidade, impostos, corporate finance, financial advisory, risk advisory, tecnologia, consultoria empresarial e treinamento, para obter mais informações, contate-nos em www.taticca.com.br ou através do e-mail taticca@taticca.com.br e saiba mais. Nossa empresa possui metodologias certificadas para a realização das atividades.