- EXCLUSIVO
Sim, é verdade. A movimentação em torno dos projetos eólicos offshore anda meio embaçada ultimamente. Tudo porque o mercado ficou desanimado com a demora na regulamentação de detalhes infralegais. Mas vale muito revisitar o tema. Nosso premiado editor-executivo, Maurício Godoi, aceitou o desafio e entregou um levantamento bem bacana. Não por acaso, é a reportagem especial desta semana do CanalEnergia. Os números são impressionantes. O setor tem potencial de 1,2 TW no país e há quase 250 GW em pedidos de licenciamento junto ao Ibama. Grandes empresas como Shell e Equinor figuram entre os 104 projetos registrados. O marco regulatório (Lei 15.097) já existe desde janeiro. O passo mais recente foi a criação do Grupo de Trabalho Eólica Offshore (GT-EO) em outubro pelo CNPE, focado em propor regras para o setor. Contudo, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) não vislumbra a viabilidade econômica da fonte nos próximos dez anos. O motivo é o alto custo de investimento. Ou seja, a modalidade só deverá constar no Plano Nacional de Energia (PNE) 2055. O mercado, representado pela ABEEólica, considerou essa previsão pessimista demais. A associação pressiona agora por um leilão de cessão de áreas no mar até 2026, visto como um sinal essencial aos investidores. Paralelamente, o primeiro projeto piloto, com o Senai/RN e Petrobras, está em desenvolvimento em Areia Branca (RN). E tem mais. A expansão da fonte pode gerar até 516 mil empregos até 2050! É manter o espírito de resiliência, porque uma hora dessas a fonte decola.
- ECONOMIA
Quer saber como está agora o panorama do curtailment no SIN (Sistema Interligado Nacional), mas não sabe como? Seus problemas acabaram! Pelo menos, é o que o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) entende ter resolvido. Foi criada em seu site oficial uma seção dedicada ao tema. A iniciativa consolida em um único espaço dados atualizados e detalhados sobre o assunto. A ferramenta foi desenvolvida com o objetivo de otimizar o acesso às informações proporcionando maior transparência.
E já que o assunto é curtailment, a Aneel colocou um pouco mais de pimenta nesse debate campeão de audiência no setor elétrico. A agência reafirmou o entendimento de que as distribuidoras têm não apenas o poder, mas o dever, de realizar corte de carga de consumidores (micro e mini GD) e de usinas conectadas diretamente à suas redes. O corte, ressaltou o órgão regulador, deve ser feito sempre que que houver um comando do ONS.
Para complicar ainda mais esse panorama de energia excedente que precisa ser bloqueada, o mercado não vem colaborando nem um pouco. O consumo de energia elétrica no Brasil registrou queda de 3,5% em setembro, totalizando 68.953 megawatts médios, segundo dados da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica). A redução em relação ao mesmo período de 2024 reflete as temperaturas mais amenas características do fim do inverno.
Agora, pensando em um futuro mais positivo do lado da demanda, a Aneel acaba de aprovar o resultado da avaliação inicial da chamada do Projeto de P&D Estratégico sobre hidrogênio no contexto do setor elétrico. A agência autorizou o início de execução de quatro das 24 propostas apresentadas, totalizando valor de R$ 196,2 milhões. Só que houve redução significativa em relação aos quase R$ 1,2 bilhão inicialmente apresentados
Pelo menos, falando agora de um outro tipo de consumo, talvez bem mais promissor até pelo prazo de implantação, a expectativa do governo com o programa Redata é que o avanço dos datacenters no país gere efeito multiplicador na cadeia produtiva, incentivando a instalação local de fabricantes de sistemas de refrigeração, UPS e componentes eletrônicos. E devido a problemas diversos enfrentados por outros países, o Brasil surge como alternativa imediata para a expansão global da infraestrutura digital.
- POLÍTICA
O MME levou um tempão para reavaliar e reestruturar o Leilão de Reserva de Potência na Forma de Capacidade (LRCAP), mas parte significativa do mercado não gostou do resultado. Ficou resolvido que serão realizados dois certames em março: o primeiro, no dia 18, para térmicas a gás, carvão mineral e hidrelétricas (UHEs); e o segundo, no dia 20, para usinas a óleo combustível, diesel e biodiesel. Houve fortes questionamentos. A Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE) atribuiu o formato à influência do “lobby dos combustíveis fósseis”. Reclamou também que as usinas a carvão não atendem aos critérios de flexibilidade operativa exigidos pelo leilão. Já o Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL) também criticou o MME por priorizar combustíveis fósseis, deixando de fora fontes renováveis. A Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), por sua vez, manifestou preocupação com a exclusão das térmicas a biomassa. Além disso, a Abraget, que representa geradores termelétricos, não aceita a inclusão das hidrelétricas, afirmando que a dependência das condições climáticas pode afetar a confiabilidade do SIN.
- CONSUMO E COMPORTAMENTO
Evento climático pra cá, evento climático pra lá e... como fica o consumidor em meio aos muitos debates entre técnicos do setor elétrico, ambientalistas e reguladores? A boa notícia é que a Aneel aprovou o resultado da Consulta Pública 32. Ou seja, ficam estabelecidos aprimoramentos regulatórios voltados ao aumento da resiliência das redes de distribuição frente a eventos climáticos extremos. O benefício mais direto para os consumidores é a especificação de prazos máximos para o restabelecimento do fornecimento de energia: 24 horas em áreas urbanas e 48 horas em áreas rurais. O não cumprimento desses prazos implicará no pagamento de compensação aos clientes afetados. Entre outras determinações, as concessionárias deverão também ampliar a transparência e a comunicação. Mas, enquanto isso tudo não é posto em prática, os reajustes tarifários continuam mais certos do que o nascer do sol. A diretoria da Aneel aprovou os reajustes tarifários da Equatorial Goiás, com aumento médio de 18,55%, e da CPFL Piratininga, com 7,63% em média. As novas tarifas entraram em vigor em 22 e 23 de outubro, respectivamente.
- ENERGIA FOTOVOLTAICA
Já para quem pode evitar consumo de eletricidade direto da rede, a realidade é bem outra. Dados da Absolar mostram que hoje, mais de 15 mil imóveis da administração pública utilizam energia fotovoltaica. Segundo CEO da instaladora L8, Leandro Kuhn, muitos municípios no Paraná licitam usinas solares com o objetivo de reduzir o custo de energia, sendo que alguns receberam o apoio do programa Itaipu Mais que Energia. Há casos em que a redução na conta mensal chega a 95%.
- IMPEDIMENTO DE DIRETOR
A Enel até tentou o impedimento do diretor Fernando Mosna de prosseguir como relator de um processo do interesse do grupo italiano, mas não conseguiu. A diretoria da agência rejeitou por unanimidade recurso da Enel RJ para anuência prévia ao refinanciamento de contratos de empréstimo (mútuos) da distribuidora com outras empresas do grupo. O posicionamento do colegiado ocorreu justamente após um caso rumoroso envolvendo operações de financiamento. Resta ainda na Justiça, porém, um processo da Enel contra a pessoa de Fernando Mosna.
- A UNIÃO FARÁ A FORÇA?
Os trabalhos no Congresso Nacional rumam numa direção em que a Medida Provisória 1304/2025, possa ter seu relatório apresentado ainda hoje, 28 de outubro. Historicamente fragmentado, o setor até conseguiu construir um consenso histórico em torno de algumas pautas mais críticas. Em um Position Paper, 94% dos representantes do setor apoiaram a abertura total do mercado. Além disso, houve grande suporte para a divisão de custos no caso da geração distribuída (GD) na CDE (73%) e o rateio de custos por sobrecontratação (93%). Há muitos outros desafios urgentes, entretanto, como a necessidade de criar um marco legal para o armazenamento de energia e solucionar o problema do curtailment. A Absolar, por exemplo, defende a incorporação da Emenda n° 9, que estabelece regras adequadas para o ressarcimento das usinas renováveis, visto que a Resolução Aneel n° 1.030/2022 esvaziou esse direito. Ainda em relação à GD, associações pedem, claro, a preservação do marco legal e a manutenção dos descontos TUSD/TUST, alertando que a criação de novos encargos antes da valoração de custos e benefícios da modalidade, prevista na Lei nº 14.300.
- DESAPEGANDO DO PASSADO
Prática comum hoje em dia no mundo corporativo, a mudança de nome de uma empresa não é exatamente uma unanimidade, mas tem lá suas conveniências. A Eletrobras, por exemplo, resolveu que passará a se chamar Axia Energia. A alteração, segundo a direção da ex-estatal, representa a evolução da companhia, que se transformou nos últimos três anos para atuar com mais agilidade, inovação e foco no cliente. O presidente Ivan Monteiro destacou que a nova marca simboliza a forte disposição da empresa para aproveitar as oportunidades que a abertura de mercado trará. O nome "Axia", que significa "valor" em grego, reflete o objetivo de capturar o momento de liberação, onde o consumidor estará "empoderado para escolher o seu fornecedor". A empresa também quer ser reconhecida como parceira, oferecendo soluções que vão além da commodity energética. Se tudo isso vai acontecer exatamente conforme o programado, só o tempo dirá.
Fonte: VOLTS BY CANALENERGIA – ÚLTIMA EDIÇÃO DE 28/10/2025