EXCLUSIVO
A gestão de ativos desponta como um dos maiores desafios estratégicos para a transição energética brasileira. Isso atraiu a atenção da repórter Michele Rios a um mergulho nesse universo para elaborar a reportagem especial desta semana do CanalEnergia . Com uma infraestrutura que combina equipamentos de diversas gerações tecnológicas, o país busca modernizar, otimizar e expandir seu parque de geração e transmissão para garantir segurança energética e uma matriz mais limpa e renovável. A entrada acelerada de fontes intermitentes, como a solar e eólica, que já representam mais de 30% da matriz elétrica nacional, intensifica a necessidade de uma gestão eficaz. Tecnologias de digitalização, como Internet das Coisas (IoT) e análise preditiva, tornam-se essenciais para estender a vida útil dos equipamentos e reduzir custos. A coordenação entre operadores, reguladores e agentes torna-se essencial para investimentos eficientes, maximizando o aproveitamento dos ativos e preparando a infraestrutura para o futuro. É, enfim, leitura obrigatória para quem quer estar sempre por dentro do que de mais recente chama a atenção da “comunidade elétrica”
ECONOMIA
Não houve explicações por parte do ONS, mas vale informar que novos recordes de demanda foram registrados na semana passada no submercado Norte. De certa forma isso preocupa porque o LRCAP (Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência) só vai rolar em 2026. Em 11 de setembro houve pico de demanda média (9.028 MW med). No mesmo dia também aconteceu um recorde de demanda máxima (9.891 MW). É torcer para isso não escalar demais.
A propósito do LRCAP, a Aneel aprovou regras de comercialização aplicáveis a contratos do certame. Houve a criação de um módulo que trata da Contratação de Reserva de Capacidade. A agência também homologou o módulo de Reajuste dos Parâmetros da Receita de CCEARs (Contratos de Comercialização de Energia Regulados). São mais peças agregadas ao quebra-cabeça que vem dominando debates entre os interessados.
Na CCEE enquanto isso, foi concluída a primeira liquidação do MCP (Mercado de Curto Prazo) após o controverso “leilão do GSF”. A operação de julho liquidou R$ 2,54 bilhões. Os valores represados caíram cerca de 72%. Passaram de R$ 1,09 bilhão em junho para R$ 310,46 milhões. Para providencial alívio aos agentes de mercado, esse valor é o menor desde 2015.
E a Iberdrola foi lá e comprou, por R$ 11,9 bi, a fatia da Previ na Neoenergia. Com essa aquisição, o grupo espanhol terá cerca de 83,8% do capital social da empresa. Esse movimento também liquidou o respectivo acordo de acionistas firmado em 2017.
Em tempo, para concluir a nossa ronda, a diretoria da Anel aprovou os termos do acordo para a transferência de controle da Amazonas Energia para a Âmbar Energia. O entendimento, costurado a partir de proposta apresentada pela empresa do Grupo J&F, envolve aporte de capital imediato de R$ 9,85 bilhões na distribuidora. Só falta agora a empresa bater o martelo.
POLÍTICA
O drama ainda está longe de terminar, mas uma decisão da Aneel praticamente firmou o epitáfio da Gold Energia. A agência revogou por unanimidade a autorização de operação da empresa, que deixou muita complicação pelo caminho ao longo de sua trajetória. Não deu outra. A medida foi motivada por grave inadimplência e descumprimento de contratos, com impacto tarifário até no ambiente regulado. Avaliação da CCEE apontou exposição negativa superior a R$ 220 milhões (maio–novembro de 2025) e risco de calote superior a R$ 1 bilhão. A Gold deixou de entregar energia a cooperativas (Cedrap e Coopernorte) e a distribuidoras, gerando custos no MCP. Ocorreu, além disso, rescisão unilateral de contratos sem autorização da Aneel e falta de apresentação de balanço patrimonial auditado. Outro problema é que houve acúmulo de penalidades não pagas (mais de R$ 2 milhões) o que a levou à situação de operação assistida e limitação de registro por parte da CCEE. A Aneel também autorizou a Procuradoria a avaliar ação civil pública e processo punitivo para responsabilizar sócios e administradores. Triste fim.
CONSUMO E COMPORTAMENTO
Há no Brasil cerca de 1,2 milhão de pessoas sem acesso regular à energia em áreas rurais e remotas e que sequer sabem por onde começar para pedir o serviço. Por isso, o governo federal anunciou o desenvolvimento de um aplicativo digital para o programa Luz para Todos , que deve facilitar o cadastro e acompanhamento das solicitações de atendimento em regiões como a Amazônia Legal, por exemplo.
Outra notícia boa é que o bônus de Itaipu ajudou no cálculo da inflação de agosto. O IPCA do mês passado recuou 0,11%. Foi no grupo Habitação, que abriga a despesa com energia, que o impacto foi bem significativo. Houve o menor resultado para o mês de agosto desde o Plano Real. Para se ter uma ideia, o peso da conta de luz caiu 4,21%. Anote aí porque é um fato histórico e deve demorar muito para acontecer de novo, tipo cometa de Halley.
CEMIG
Historicamente, a Cemig sempre foi muito ativa na captação de novos clientes para o mercado livre de energia. A carteira da empresa mineira acaba de ultrapassar a marca de 10 mil consumidores . Cálculos indicam que são mais de 7 mil unidades consumidoras no atacado e 3 mil no varejo, onde a companhia lidera o ranking com 192 contrapartes. Ou seja, está à frente da Matrix e Ultragaz.
GRUPO ENEL
O Grupo Enel segue colecionando antagonistas quando o assunto é distribuição de energia. Além do prefeito de São Paulo, que está no pé da filial local da empresa italiana, agora o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro entrou com ação pública. Pede que a Aneel reconsidere a decisão de recomendar à União a prorrogação da concessão da Enel Rio. O MP quer que a agência se abstenha de prorrogar o contrato e que a diretoria realize nova deliberação. A conferir.
LEILÃO DO GSF
Nesta terça-feira, 16 de setembro, a diretoria da Aneel vai decidir sobre a extensão das concessões das usinas vencedoras do leilão do GSF, um tema cercado de expectativa pelo mercado. O julgamento definirá prazos adicionais de exploração que variam de três a sete anos, conforme cálculo da CCEE, e pode encerrar meses de dúvidas sobre a legalidade da taxa de desconto aplicada no certame — questionada pelo diretor Fernando Mosna. A decisão será a primeira com o colegiado completo da agência, após as recentes nomeações, e é considerada fundamental para dar segurança jurídica ao setor.
O histórico do leilão do GSF reforça essa importância. Autorizado pela MP 1300 e realizado em 1º de agosto na plataforma da CCEE, o mecanismo negociou débitos de geradores que contestavam judicialmente o pagamento do risco hidrológico. Em troca, os compradores dos passivos obtiveram a extensão das outorgas das usinas. Oito dos 11 empreendimentos participantes saíram vencedores. A liquidação financeira ocorreu em 13 de agosto, garantindo a quitação parcial das dívidas, embora ainda reste cerca de R$ 300 milhões em aberto. Haja coração!
INTERLIGAÇÃO MANAUS BOA VISTA
Aconteceu na última quarta-feira, dia 10, com direito a uma performance incomum do presidente Lula. Ele literalmente ancorou a cerimônia que marcou o início de energização da Interligação Manaus-Boa Vista , colocando Roraima finalmente no mapa do SIN (Sistema Interligado Nacional). Também conhecida como “Linhão de Tucuruí”, a obra demorou quase 15 anos para ser concluída. A Transnorte Energia, consórcio formado pela Eletronorte e Alupar, enfrentou vários percalços ao longo desse período. A coisa pegou mesmo no licenciamento ambiental, mas no que se refere à componente indígena. Não foi fácil chegar num acordo com os Waimiri-Atroari. Depois veio a negociação com a Aneel para buscar uma atualização da RAP (Receita Anual Permitida). Ao final de tudo, pelo menos serão economizados R$ 540 milhões anuais na compra de combustíveis fósseis usados até então para alimentar várias usinas térmicas. Outro ponto positivo é que o novo linhão deve possibilitar no futuro a interligação com outros países da América do Sul, via Venezuela.
Fonte: VOLTS BY CANALENERGIA – 176ª EDIÇÃO DE 16/09/2025