EXCLUSIVO
Se a pauta é razoavelmente complexa do ponto de vista técnico, a gente aqui na redação coloca o colega Henrique Faerman para destrinchar. Por isso, a reportagem especial do CanalEnergia desta semana foca as microredes. O tema vem ganhando espaço no setor elétrico por oferecer todas as principais vantagens perseguidas hoje em dia: maior autonomia, segurança e eficiência no uso da energia. São arranjos que, afinal, combinam geração local, armazenamento e controle inteligente, permitindo o funcionamento independente ou integrado à rede. O modelo tem se mostrado essencial em regiões isoladas, reduzindo o uso de diesel e melhorando a qualidade do fornecimento. Projetos conduzidos por distribuidoras como Cemig, Energisa e Neoenergia comprovam a viabilidade técnica e econômica. Em Serra da Saudade (MG), por exemplo, um sistema solar com baterias evitou altos custos de reforço da rede. Especialistas destacam ainda o potencial das microredes para mitigar cortes na geração renovável (curtailment) e integrar novas tecnologias como IA e IoT. Apesar dos avanços, persistem entraves econômicos e regulatórios, como o alto custo das baterias e a ausência de incentivos tarifários específicos. Ainda assim, o consenso é que as microrrede são um passo essencial para um sistema elétrico mais moderno e resiliente.
ECONOMIA
O curtailment segue persistentemente na liderança do trending topics do setor elétrico. Então, bora partir para as atualizações. Pois é, os cortes dispararam em setembro, batendo recorde histórico com 6.640 MW médios. Foi um volume 14% superior a agosto último, conforme dados da Volt Robotics. Essa “explosão” de cortes atingiu as fontes solar centralizadas (34,8% da produção) e eólica (22,9%). O ONS, por seu lado, espera apresentar uma solução em pouco menos de 30 dias. Diz que envolverá também a Aneel e a EPE. Enquanto isso, claro, os lamentos não param. A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, torce por uma solução financeira para as perdas, que podem ultrapassar os R$ 5 bilhões estimados para o ano. Por outro lado, o senador Marcos Rogério defendeu na Comissão de Infraestrutura da Casa uma proposta que evite o repasse do custo do curtailment para o consumidor. Ele avisou que não quer nem ouvir falar de um “novo GSF”. Só que os agentes do mercado classificam a crise como mais grave que a do GSF. A cobrança pra cima da Aneel também é forte. A agência é vista como fiel da balança, capaz de endereçar uma solução regulatória.
CONSUMO E COMPORTAMENTO
É bom ir se preparando e botar fé de que a abertura geral do mercado livre de energia vai mesmo acontecer a partir de dezembro de 2026. Vale saber que o estado de São Paulo, pelas regras atuais de migração, lidera o movimento. De acordo com levantamento da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), a praça paulista segue na liderança. Foram registradas 4.129 novas transferências. Isso é o maior volume do país no 1º semestre, que bateu em 13,8 mil adesões ao ambiente de contratação livre. Ou seja, crescimento de 26% em relação ao mesmo período de 2024. Enquanto isso, os consumidores da baixa tensão – eu, você e quase todo mundo – vamos nos contentando com algumas novidades. O pessoal que é atendido pela EDP SP, por exemplo, já começou a receber suas faturas com um QR Code que dá acesso à nota fiscal eletrônica de energia elétrica. Em tempo de epidemia de fraudes, isso permite ao titular da ligação verificar a autenticidade da conta.
ANEEL – NOMEAÇÃO DE 20 ESPECIALISTAS EM REGULAÇÃO
Agora, um pequeno “refresco” para as equipes de profissionais Aneel que, há tempos, andam com a língua pra fora de tanta concentração de trabalho. O governo autorizou a nomeação de 20 especialistas em regulação, que não estavam previstos inicialmente no concurso público no ano passado. A autorização para a convocação dos novos servidores saiu na edição no Diário Oficial da União de 2 de outubro.
PANORAMA TRABALHISTA DA EPE
Longe de Brasília, no Rio de Janeiro, o panorama trabalhista na sede EPE está diferente. Após dois dias de paralisação, os funcionários decidiram entrar em greve prevista para durar entre hoje 7, e amanhã, 8 de outubro . O motivo é a perda salarial por conta de reajustes abaixo da inflação. Mas nem tudo está perdido. Havia possibilidade de uma nova rodada de negociações ainda na sexta-feira passada, dia 3. É uma conversa difícil, já que as perdas acumuladas desde maio de 2014, teriam chegado a 22,7%.
ENIGMA DE ANGRA 3
Tal qual uma esfinge, o enigma de Angra 3 é outro assunto que continua enguiçado no setor elétrico nacional. A definição sobre o futuro da usina foi mais uma vez postergada. O CNPE agora exige a atualização e complementação dos estudos de modelagem econômico-financeira. BNDES e Eletronuclear vão ter que detalhar o custo de abandono e ainda prever cenários do tipo envolvendo ou não um sócio privado. Essa falta de definição é motivo de apreensão entre os agentes do setor. É que a cada mês que a decisão atrasa, mais cara fica a tarifa. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que já se posicionou favoravelmente à continuidade, já pediu urgência na conclusão dos relatórios. Ele, aliás, põe fé de que a decisão final deva sair até o fim do ano. Desde claro que os novos estudos sejam apresentados em novembro. Para especialistas, desistir de Angra 3 causaria um retrocesso de pelo menos 20 anos na adoção de pequenos reatores no Brasil.
MEDIDA PROVISÓRIA 1304
A Medida Provisória 1304 expira dia 7 de novembro e parece que a sua tramitação corre o risco de repetir a taquicardia causada pela MP 1300, aprovada em cima do laço pelo Senado Federal. É que a comissão mista responsável pela matéria deve se reunir entre hoje, 7, e amanhã, 8 para começar a definir o plano de trabalho. Ah, sim! Também será necessário formalizar o senador Eduardo Braga (MDB-AM) como relator. Ou seja, restará apenas um mês de prazo para trabalhar em cima da reforma do setor elétrico, que, entre outros temas bem complexos, engloba a abertura de mercado e a limitação de subsídios. Entre as prioridades, ganham força ainda o tratamento do curtailment e a regulamentação do armazenamento de energia. Só esse último tema conta com 41 emendas. As associações mais diretamente interessadas, a propósito, ressaltam que, embora a Aneel atue no campo regulatório, apenas a lei pode conferir a segurança jurídica necessária. Isso porque para o desenvolvimento pleno desse segmento, é preciso abordar questões referentes a outorga, tarifas e financiamento. Em resumo, as expectativas são pra lá de altas em relação à atuação do Congresso.
Fonte: VOLTS BY CANALENERGIA – 179ª EDIÇÃO DE 07/10/2025