“O tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump brecou a economia mundial, o frio gelou o Brasil e a temperatura também despencou no setor de energia. Tivemos por aqui uma “semana do freio de arrumação”. Ocorrências somadas trouxeram momentos de reflexão e de rearranjos estratégicos. O jeito agora é encarar os fatos como parte do jogo e acreditar que as coisas devam melhorar daqui pra frente.”
(...), “estourou pra valer uma espécie de crise diplomática entre o Brasil e Paraguai numa hora muito errada. Sim, bem em meio aos preparativos para a renegociação do Anexo “C” do Tratado de Itaipu, vital para o setor elétrico nacional. Tudo em razão de uma acusação de suposta espionagem da parte do governo brasileiro, fazendo com que o nosso sócio suspendesse todas as tratativas.” (...).
Alexandre Canazio
Editor-chefe do Canal Energia
EXCLUSIVO
(...).“Fernando Mosna, diretor da Aneel, nos traz um artigo sobre um tema que está mobilizando interesses poderosos. Ele discute justamente a questão do constrained-off, também conhecido, em seu formato similar, como curtailment. Sem dar muito spoiler, na visão de Mosna, “pensar fora da caixa” é uma das atitudes mais do que necessárias para atualizar a regulação que, claro, faz questão de frisar, é responsabilidade da própria agência. (...)”
(...),“o colega Henrique Faerman trata a fundo de outro tema que provoca embates jurídicos: a renovação das concessões hidrelétricas. Entre outros pontos, o setor aguarda definição estrutural sobre manutenção ou não do regime de cotas e das diretrizes alinhadas com a evolução do mercado. Objetivo é justamente eliminar diferentes interpretações da lei e manter a atratividade dos investimentos. Há uma torcida para que o MME anuncie regras e diretrizes até o final de 2025. O problema, no entanto, é a falta de um debate mais robusto sobre como esse processo deve ocorrer. No centro de tudo está a Lei 12.783, de 2013.” (...).
ECONOMIA
“Parece que não, mas em paralelo aos assuntos bem enguiçados em debate recorrente no setor, mais coisas estão acontecendo. A fila anda! Começando pelo leilão de projetos de transmissão de energia. Já está na praça a respectiva Consulta Pública. Se tudo correr como planejado, o certame, com previsão de investimentos de R$ 7,6 bilhões, deve acontecer em 31 de outubro. E o pessoal está mesmo botando fé de que a conexão “vagalume” de Roraima com a Venezuela voltará a funcionar pra valer. Mais cinco comercializadoras foram autorizadas pelo MME a fazer importações do país vizinho. Esperamos que dê tudo certo. Se não der e algo ocorrer fora das quatro linhas das regras, talvez a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) precise se manifestar. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) acabou de validar o poder sancionador da organização, revertendo entendimento contrário determinado em 2023. O que não dá para alterar é a parada da usina Angra 1. Ela está fora do Sistema Interligado Nacional (SIN) desde o último sábado, dia 5, para manutenção programada. A previsão é que o retorno ocorra em 85 dias! São 640 MW a menos no grid e que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisa substituir, se demanda assim exigir. Cenário que tem chance de acontecer porque a previsão é de que a carga suba 1,7% ao longo de abril.
Ajudando a demanda crescer, aliás, ainda que de pouquinho, estão os veículos elétricos (VE). Os modelos plug-in lideraram as vendas no primeiro trimestre de 2025 e, segundo pesquisa da consultoria PwC, 75% dos consumidores brasileiros desejam comprar um VE até 2029. Sorte das companhias de distribuição que andam com energia sobrando, mas continuam lucrando. A Celesc, por exemplo, teve alta de 28,5% no lucro de 2024, que bateu em R$ 715,8 milhões. Nada mal! Passando agora para os registros de “RH”, Thomaz Guadagnin é o novo presidente da Transportadora Associada de Gás (TAG). Ele está no lugar de Gustavo Labanca, que agora é o novo diretor de Negócios de Infraestrutura da Engie. E por falar em Engie, Eduardo Sattamini está com tudo e não está prosa. Além do cargo de presidente da companhia no Brasil, ele foi nomeado Country Manager, no lugar de Maurício Bähr, que vai comandar o Conselho de Administração.”
POLÍTICA
“E o Leilão de Reserva de Capacidade na Forma de Potência (LRCAP) flopou. Cumpriu, enfim, sua triste sina ao ser cancelado pelo MME. Não havia mesmo saída para tanta judicialização. Mas, veja bem, foi-se, digamos, uma “vida”. O certame vai ser reagendado. Não sem antes causar ataques de ansiedade e taquicardia no mercado. Há muitos interesses econômicos em jogo, sem se falar no risco ao sistema elétrico nacional, caso o atraso fuja do controle. Mas, vamos lá atualizar rapidinho a cronologia dos fatos. Não só para pontuar a mecânica dos acontecimentos, mas também para atualizar quem, por acaso, já perdeu o fio da meada em meio a tanta complicação em tão pouco espaço de tempo. Em 28 de março, o STJ suspendeu a utilização do Fator “A” no LRCAP a pedido da Eneva, impactando o cálculo do preço. No dia 1º de abril, a Justiça Federal concedeu liminar, suspendendo os efeitos da portaria do leilão e determinando consulta pública sobre as regras. Em 2 de abril, na sequência, a Proteste também questionou judicialmente o Fator “A”, similarmente à Eneva. No dia 3 de abril, o ministro Alexandre Silveira, sem saída, resolveu cancelar o evento, anunciando um novo certame para o final do ano. A portaria sacramentando a decisão saiu em 4 de abril. O governo pretende agora reorganizar a disputa, rediscutindo o Fator “A” em consulta pública. Apesar do cancelamento ser visto como necessário, para corrigir as regras, os agentes estão pra lá de preocupados por conta de um eventual atraso na contratação de potência. A Abrage defende a realização do leilão ainda em 2025 e o ONS reforça a importância dessa medida. Resta cruzar os dedos para que tudo se encaixe.”
CONSUMO E COMPORTAMENTO
“Você, caro consumidor distraído, pode não ter percebido a diferença. A depender, óbvio, de onde você mora. A Aneel garante, no entanto, que houve sim uma boa notícia sobre a qualidade do serviço prestado pelas distribuidoras, ao longo de 2024. Segundo a agência, os respectivos indicadores mantiveram, na média, a trajetória de queda no ano passado. Foi registrada até uma pequena redução de 1,7% na duração (DEC) e de 5% na frequência (FEC) das interrupções. Já as compensações pagas pelas distribuidoras aos consumidores, em razão de ultrapassagem nos limites impostos pela regulação, aumentaram de R$ 1,080 bilhão em 2023 para R$ 1,122 bilhão no ano passado. Se você mora no Distrito Federal, tem o que comemorar. No grupo das grandes concessionárias, a Neoenergia Brasília foi a que mais avançou na melhora dos indicadores. Já quem reside em Rondônia (RO), Acre (AC) e Piauí (PI), vai ter que esperar mais um pouco para saber se está sendo bem ou mal servido. As respectivas empresas responsáveis por essas áreas de concessão – Energisa (AC e RO) e Equatorial (PI) – estão fora do ranking da Aneel porque ainda permanecem com seus limites flexibilizados. E já que estamos falando da Energisa, é bom pessoal do Mato Grosso (MT) e do Tocantins (TO), estados atendidos pela companhia, ir preparando o bolso. Desde o 1º de abril, MT já está com as tarifas 1,78% mais altas em média, enquanto para TO a revisão em análise na Aneel prevê algo na faixa de 9,4%, em média.”
OUTRAS NOTÍCIAS
“Enfim, um aceno de alguma luz no fim do túnel entre os geradores renováveis, em meio ao mar de lágrimas provocado pelos prejuízos decorrentes do curtailment e do constrained-off, a dupla mais odiada da história do setor elétrico depois do temido Generation Scaling Factor (GSF). As linhas de transmissão da Rialma em 500 kV, Gentio do Ouro II-Bom Jesus da Lapa II C2 e Gentio do Ouro II -Bom Jesus da Lapa II C4, foram integradas ao SIN. Com isso, segundo o ONS, dependendo do cenário, o novo limite de escoamento de geração na região Oeste da Bahia pode aumentar de 500 MW a 2.500 MW. Ainda no estado baiano, o Operador trabalha com uma expectativa para a integração de mais quatro linhas. Viva! Outra informação bem bacana é que a hidrelétrica Belo Monte alcançou uma marca expressiva. Mundialmente criticada do ponto de vista ambiental, embora muito eficiente do lado de desempenho operacional, a usina evitou que 5,3 milhões de toneladas de CO2 fossem parar na atmosfera, somente nesse começo de 2025.
Estudo do Climate Policy Initiative/PUC-Rio (CPI/PUC-Rio) e do Amazônia 2030 apontou que o Brasil perde uma fortuna em geração de eletricidade devido a um problema ambiental muito sério. Foi constatado que as hidrelétricas Itaipu e Belo Monte perdem juntas, por ano, energia suficiente para abastecer 1,5 milhão de pessoas, como consequência do desmatamento, principalmente no que se refere à Amazonia. Isso gera prejuízo anual de mais de R$ 1 bilhão em receita para as usinas. A floresta Amazônica influencia os padrões de chuva através do mecanismo conhecido por rios voadores, que se movem no sentido Norte-Sul. Daí a Itaipu Binacional figurar nesse levantamento. Ainda em relação ao Norte, aconteceu de novo. Na última quarta-feira, dia 2 de abril, a cidade de Manaus e o estado do Pará sofreram um megadesligamento de 1.358 MW de carga. Algumas localidades ficaram mais de três horas sem abastecimento.”
Fonte: Canal Energia